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10 de junho de 2008

BAHIABIO: 20 VEZES PIOR QUE A TRANSPOSIÇÃO


Bahiabio: 20 vezes pior que a Transposição
Escrito por Roberto Malvezzi

O governo da Bahia lançou em um de seus sítios o programa BAHIABIO.
Ele se propõe simplesmente em plantar 870 mil hectares de cana para produção de etanol e 868 mil hectares de oleaginosas para produzir biodiesel. Avisa logo na apresentação: "não é para produzir alimentos". Portanto, sequer a idéia de consorciar. Monocultura em estado puro.

Outro detalhe fundamental é que 510 mil hectares de cana serão no vale do São Francisco. Portanto, cana irrigada. Cerca de 300 mil no Oeste Baiano, 20 mil no projeto Salitre, 60 mil no Canal do Sertão, 40 mil no Baixio do Irecê, 60 mil no Médio São Francisco, 30 mil no rio Corrente. E o sertão vai virar cana. O restante será implantado na região sul (300 mil hectares) e Sudoeste (60 mil hectares), com regularidade de chuvas, dispensando a irrigação. No Oeste Baiano dizem que a irrigação será "suplementar".

Oras, os técnicos em irrigação nos dizem que um hectare irrigado consome um litro por segundo em média. Entretanto, embora seja segredo trancado a sete chaves no Brasil, já descobrimos através da Índia que um litro de etanol consome 3.600 de água pra ser produzido em cana irrigada. Portanto, para irrigar 510 mil hectares são necessários 510 mil litros por segundo em média, ou seja, 510 metros cúbicos. Entretanto, na cana irrigada pode ser muito mais.

É de se perguntar, com toda obviedade, de onde vão tirar essa água. Os próprios dados do Comitê de Bacia do São Francisco, dados praticamente pesquisados e oferecidos pela Agência Nacional de Águas (ANA), nos dizem que o São Francisco só tem para múltiplos usos 360 metros cúbicos de água. O restante pertence à Chesf para gerar energia elétrica. Desses 360, 335 já estariam outorgados, sabe-se lá para quem e para quê. Portanto, restariam 25 metros cúbicos por segundo, que o pessoal da Transposição tomou para si. Portanto, o que resta é zero.

O chocante nessa história de megalomania e irresponsabilidades é perceber que a água necessária para irrigar essa cana – ainda não estão contabilizados os 80 mil hectares complementares do projeto Canal do Sertão para o estado do Pernambuco – é 20 vezes maior que a demandada pela transposição, que é de 26 metros cúbicos por segundo.

Nesse caso é preciso dar razão para aqueles que dizem ser "insignificante o que a transposição vai levar para os outros estados". Se essa água é necessária mesmo por lá ou não é outra história, mas a quantidade é mesmo pequena diante do Bahiabio. A verdade é que vão devorar o São Francisco nas suas melhores manchas de solos e nos seus grandes volumes de água.

Nesse momento em que os predadores tomam conta da nação, devorando a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, cegados pelos agrocombustíveis, se faltava algo para nos enterrar de vez nas margens do Velho Chico, já não falta mais: chegou o Bahiabio. CORREIO DA CIDADANIA -

(Roberto Malvezzi (Gogó) é coordenador da CPT.)

GOVERNO BAHIANO JUSTIFICA PROJETO BAHIABIO :

4.1.2. Justificativa

Como resultado da expansão e diversificação agrícola na Bahia, três pólos canavieiros se instalaram no Estado: Recôncavo, Vale do São Francisco e Extremo Sul, sendo que no Vale do São Francisco, por exigência climática, o cultivo ocorre sob regime irrigado e no Recôncavo e Extremo Sul, sob condições de sequeiro. O pólo do Extremo Sul apesar de estar em fase de implementação é o que apresenta maior potencial para expansão, em razão das suas características de solo e clima favoráveis.
Na Região Oeste do Estado, em recentes trabalhos de pesquisa realizados pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA, Instituto Agronômico de Campinas – IAC e Fundação Bahia, com a cana irrigada, foram identificadas amplas potencialidades para seu cultivo.
Os resultados preliminares com diversas variedades apresentaram produtividades de até 140 t/ha/ano. Com esses resultados poderá ser aproveitada na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, parte de 600 pivôs centrais instalados na região e que se encontram sub-utilizados. Ainda na Bacia do Rio São Francisco, existe um considerável potencial para produção de cana-de-açúcar nos Projetos de Irrigação Salitre, Baixio de Irecê, Corrente e Médio São Francisco (Muquém, Igarité/Barra, Mocambo/Cuscuzeiro e Santa Maria da Vitória), todos em implantação ou em fase de estudo.
Na Região Sudoeste do Estado também existe a possibilidade de cultivo da canade- açúcar nos vales dos rios Catolé e Gongogi, em área equivalente a 60 mil hectares.

Resta saber de onde será tirada tanta água assim na exaurida BACIA DO SÃO FRANCISCO...são os atuais açudes e projetos agrícolas irrigados...a transposição cuja obra, apesar de contestada, está em pleno andamento. Agora esse mega projeto denominado BAHIABIO.
Será que os valores do potencial hídrico dessa bacia estão sendo calculados corretamente ou o entusiamo na "realização de obras" está cegando os técnicos e políticos de plantão...

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