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22 de abril de 2011

RIO PRETO DEIXA DE RECEBER 29 TON/DIA DE MATÉRIA ORGÂNICA E SUA MATA CILIAR É PRIORIDADE ZERO


Cobertinho, uma das artérias aquáticas cravadas dentro do perímetro urbano de Rio Preto; reportagem flagrou muita poluição em trechos de suas margens, incluindo sacolas e garrafas plásticas, pneus, camas e até um vaso sanitário
Acuadas pelo crescimento urbano e o avanço da agropecuária, as matas que protegem os rios de Rio Preto vivem morte lenta e gradual. Dos 1,8 mil hectares de área de preservação permanente que cercam o rio Preto e seus sete afluentes acima da Represa Municipal, apenas 464, ou 25,6%, estão preservados, de acordo com estudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) obtido pelo Diário. O restante, equivalente a 1,7 mil campos de futebol, virou pasto ou vegetação rasteira, insuficiente para preservar o volume e a quantidade de água do rio.

“A mata ciliar protege o curso d’água e impede o assoreamento e a contaminação por lixo urbano e agrotóxicos. Sem essa vegetação, o rio ou córrego acaba desaparecendo a médio e longo prazo”, afirma o tenente da Polícia Ambiental Alessandro Daleck.

A situação preocupa diretamente a Prefeitura porque é a da represa que o Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto (Semae) retira 30% do abastecimento de água do município. “Se continuarmos nessa situação de degradação, existe o risco de redução da vazão do rio Preto até o ponto em que não será mais possível captar água”, diz o secretário.

A reportagem de hoje abre a série “SOS Meio Ambiente”, que vai abordar o desmatamento na região e a arborização de Rio Preto, entre outros temas. A série se encerra em 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente.

Nas 79 nascentes mapeadas pelo IPT, 36 estão em estado máximo de criticidade, quando há risco de extinção da mina d’água. Embora não tenha sido contemplada no estudo por desaguar no rio Preto abaixo da represa, o córrego Canela, que passa sob a avenida Alberto Andaló, não existe mais na prática. “A nascente secou completamente. A água que se vê é da galeria pluvial”, diz o biólogo da Unesp Arif Cais.
Thomaz Vita Neto
Ameaçado pelo assoreamento e também pela erosão que avança lentamente, Cobertinho agoniza


Na região onde havia a nascente do Canela, é fácil constatar o desmatamento e a erosão do solo, que chega a engolir árvores inteiras. Na quarta pela manhã, a galeria pluvial soltava espuma no local. “É mais poluição para acabar de matar o córrego”, afirma o biólogo.

A nascente do córrego Borá, que corre debaixo da avenida Bady Bassitt, chegou a ser seriamente ameaçada há dez anos, quando a mata ciliar foi completamente destruída por condomínios de luxo recém-construídos no entorno. Na época, o Ministério Público obrigou as empresas a reflorestar a área, o que minimizou o problema.

Mesmo assim, a impermeabilização nos arredores da nascente pelo avanço urbano impede que a água penetre no lençol freático e, assim, abasteça a nascente. “O Borá caminha para a extinção, como o Canela e o córrego que passava na avenida Murchid Homsi, seco há mais de 50 anos”, diz Arif.

Uma das evidências desse processo está em um dos afluentes do Borá, logo acima do condomínio Recanto Real. Em 2004, segundo o biólogo, a Prefeitura roçou um terreno público e dizimou a mata ciliar da nascente dentro da área. A mata foi recomposta pelo Rotary Clube, mas a mina d’água nunca mais se recompôs. Na última semana, o local estava cheio de sacolas, garrafas e sacos plásticos.

Destruição

A degradação da mata ciliar e das nascentes acompanha o desenvolvimento de Rio Preto desde a metade do século 20. Mas há indício de que a destruição perdure nos dias de hoje. De 2009 a março deste ano, a Polícia Ambiental fiscalizou 98 propriedades rurais que margeiam o rio Preto e seus afluentes. Constatou a devastação de 66,3 hectares, a maioria pela presença de gado e cavalo. “Esses animais pisoteiam a vegetação mais rasteira, o que compromete todo o ecossistema”, diz o tenente da Polícia Ambiental. Na última quinta-feira, o Diário flagrou gado, cavalo e sujeira nos córregos Piedade e Cobertinho, incluindo sacolas e garrafas plásticas, pneus, camas e até um vaso sanitário.
Hamilton Pavam
Paulo César se uniu a seis pessoas para cuidar do córrego dos Macacos
Trabalho anônimo e silencioso é exemplo

No cenário de degradação dos rios da cidade, o trabalho do funileiro Paulo César de Jesus, 45 anos, é rara exceção. Há cinco anos ele e mais seis pessoas se uniram para recuperar a mata ciliar do córrego dos Macacos, próximo da Vila Azul, onde mora.

Enfrentaram todo tipo de dificuldade: a Prefeitura se negava a repassar mudas do Viveiro Municipal, e os sitiantes nem queriam ouvir falar em ceder área para o plantio. “O dono da terra perguntava: ‘Mas o que eu ganho com isso?’ Todo mundo só pensava no lucro imediato, não interessava a nossa conversa de preservação do meio ambiente”, diz Paulo.

Um ano depois, veio o alento: uma proprietária rural cedeu um hectare de seu sítio, e uma usina da região doou as mudas. Em seguida, uma imobiliária com passivo ambiental fez acordo com o Ministério Público e passou a auxiliar o grupo com R$ 800 mensais para o custeio de mudas e aluguel de maquinário. “Antes, tirava dinheiro do bolso”, diz Paulo. Ele consome os fins de semana na atividade, que conta com o auxílio de biólogos da Unesp.

Atualmente, o funileiro contabiliza o plantio de 2 mil mudas em 1,5 hectare. E negocia a expansão do reflorestamento em mais seis hectares, também nas margens dos Macacos. “Aos poucos, vamos convencendo os sitiantes de que não queremos tirar terra deles, de que não somos inimigos. Até pensamos em firmar parceria com a Polícia Ambiental para que nos ajude no diálogo com os produtores rurais”, afirma Paulo. Ele vai mais longe: pretende criar uma ONG ligada ao meio ambiente, algo inexistente hoje em Rio Preto.
Guilherme Baffi
Professor da Unesp Arif Cais analisa afluente do córrego Borá, que corta a avenida Bady Bassitt: a situação é preocupante
Plantio perto do rio Preto é prioridade

O plantio de árvores na mata ciliar do rio Preto e seus afluentes acima da Represa Municipal é “prioridade zero” para a Secretaria de Meio Ambiente do município, de acordo com o titular da pasta, Lima Bueno. Para recuperar todos os 1,3 mil hectares degradados, ele estima serem necessárias 1 milhão de mudas. “Será um projeto para muitos anos, que ultrapassa a atual gestão do prefeito Valdomiro Lopes.”

A secretaria, afirma Bueno, iniciou o plantio de 40 mil mudas nas margens dos córregos do Cedro, Macacos e da Lagoa. “São áreas cujos proprietários estão mais organizados e dispostos a recuperar o passivo ambiental”, justifica o secretário. As mudas foram doadas pelo Semae e por usinas de açúcar e álcool da região.

Bueno defende a preocupação ambiental no desenvolvimento geográfico de Rio Preto. “Desde a década de 80 nossa legislação ambiental prevê área de proteção de 30 a 150 metros dos cursos d’água, onde não pode haver interferência humana, enquanto o Código Florestal, que veio depois, prevê 15 metros”, diz o secretário. “O que falta agora é preencher essa área, que nem sempre está preservada.”

O secretário diz que ainda não está em discussão remunerar o produtor rural que preservar sua área de preservação permanente, a exemplo do projeto em desenvolvimento em Votuporanga. No município da região, o sitiante vai ganhar R$ 150 por ano para garantir a integridade da mata ciliar em sua propriedade. Ele também nega que o córrego Canela esteja morto. “Há algumas minas d’água, ainda que poucas”, afirma.
Guilherme Baffi
Garrafas plásticas se destacam no meio do lixo em afluente do Borá
Qualidade melhorou com início da ETE

O funcionamento da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) melhorou a qualidade da água no rio Preto, conforme a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Em 2009, o monitoramento do órgão apontou 1,4 mg/l de oxigênio na água do rio, quando o mínimo recomendável são 5 mg/l. Já em outubro do ano passado, com a estação em pleno funcionamento, a concentração de oxigênio subiu para 5,3 mg/l.

A licença de operação da ETE foi concedida em janeiro deste ano, segundo o gerente regional da Cetesb, José Benites de Oliveira. “Com o sistema em funcionamento, a cidade deixou de lançar 29 toneladas diárias de matéria orgânica no rio Preto”, disse. A estação tem capacidade para tratar mil litros de esgoto por segundo, equivalente aos dejetos gerados pela cidade.

No total, a ETE custou R$ 120 milhões, sendo que parte desse valor foi financiada pela Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pelo prazo de 20 anos. Em 2008, a obra chegou a ser inaugurada pelo então prefeito Edinho Araújo, e reinaugurada no ano passado pelo atual prefeito, Valdomiro Lopes - a justificativa foi de que, quando da primeira inauguração, a ETE não estava em operação.








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