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20 de março de 2012

SEMANA DA ÁGUA NO EMBRAPA MEIO AMBIENTE - REDE DE PESQUISA AGROHIDRO

Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) 


A ÁGUA e suas Múltiplas Facetas

por Ricardo Figueiredo, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente

Considerada desde tempos imemoriais por diversas culturas como um dos quatro (ou cinco) elementos naturais, a ÁGUA atravessa a história humana como um tema sempre atual. Ainda cedo em nossa vida torna-se muito simples conhecer os seus atributos mais populares - dessedentação e limpeza. No entanto, a complexidade das funções desse substância líquida representada pela simples fórmula química H2O e dos processos físicos, químicos e biológicos relacionados é imensa e "infinitamente" diversificada.

Sua atuação pode tanto associar-se ao "bem" como ao "mal". Ela tanto proporciona saúde, limpeza, transporte, energia, sustento para a agricultura e para as florestas, regulação do clima e meio para vida aquática, como ocasiona doenças por veiculação hídrica, danos à plantações e tragédias decorrentes de desbarrancamentos e enchentes.

Até mesmo seu valor monetário é extremamente variável. Ele depende da oferta e da demanda por esse "precioso líquido". Países como o Brasil, ricos em recursos hídricos embora com distribuição desigual, se dão ao luxo de desperdiçar água e cobrar um preço relativamente baixo pelo uso da água comparado com outras nações. Por conta desse aspecto econômico e da necessidade básica das sociedades humanas, a ÁGUA vem sendo apontada até mesmo como ponto focal de futuras guerras!

Daí podemos dizer: o valor da ÁGUA é incalculável! Embora até aqui tenhamos evitado falar em números, acredito que os breves e simples comentários apresentados sobre suas múltiplas facetas já relembram e justificam ser o tema ÁGUA "A Prioridade das Prioridades" no que se refere aos recursos naturais de nosso belo planeta azul. Sim, azul da cor (da água) do mar.

São tantas as áreas das ciências que se relacionam com o tema ÁGUA, que torna-se impossível tratar amplamente sobre o conhecimento humano a seu respeito a menos que decidamos pela publicação de uma grande "enciclopédia". Aliás essa é uma boa idéia para editoras. Que venha a "Enciclopédia da Água", mas também em formato digital para sua ampla utilização pelas gerações do século XXI.

Como agrônomo, estudioso das ciências ambientais, e funcionário de uma empresa de pesquisa agropecuária, tenho mais a falar sobre as relações entre a água presente em bacias hidrográficas e as mudanças de uso da terra, com foco na agricultura.

A unidade de paisagem mais adequada para avaliações dos efeitos do uso da terra sobre a quantidade e qualidade dos recursos hídricos é a bacia hidrográfica. Tal fato se deve por ser esta uma unidade fisiográfica onde os estoques e fluxos hídricos atuam, dentro de limites topográficos definidos, como integradores de processos naturais diversos nos solos, rochas, corpos d'água, biota aquática e terrestre, e a atmosfera.

Os rios e córregos dependem, para sua existência, da água que precipita nas áreas de captação de suas bacias. Esta água carreia o que possa ser mobilizado pela sua ação física e/ou química, resultando nos materiais particulados e/ou solúveis transportados pelos rios, ou mesmo, armazenados temporariamente no subsolo. A composição química fluvial é portanto, um reflexo das interações dos diferentes compartimentos ambientais citados anteriormente.

Como resultado das atividades agropecuárias os elementos químicos presentes nos solos e na vegetação original de uma bacia, juntamente com aqueles que constituem os agroquímicos aplicados, são disponibilizados pelo manejo dos solos (aração, gradagem e outras práticas) para serem transportados através dos escoamentos subsuperficial e superficial até os rios ou lixiviados até os estoques subterrâneos que eventualmente suprem os corpos d'água superficiais em épocas de baixa pluviometria. O resultado disso é a alteração da hidrobiogeoquímica das águas de uma bacia.

Em todo o planeta são realizadas pesquisas científicas agropecuárias avaliando possíveis alterações em decorrência do uso agrícola nas estruturas e funções de ecossistemas terrestres e aquáticos, incluindo os fluxos de nutrientes, carbono e água nas bacias. Em nosso país grupos e instituições de ensino e pesquisa na área agropecuária tratam dos recursos hídricos enfocando prioritariamente as necessidades da atividade produtiva, o que resulta em avanços reais no conhecimento em ecofisiologia, técnicas de irrigação e drenagem, e definição de ocasião e região para implantação de diferentes sistemas de produção agropecuários. Tais esforços científicos, entretanto, não colaboram o suficiente no conhecimento sobre possíveis impactos ambientais sobre os recursos hídricos e a mitigação destes no âmbito rural.

Por outro lado, observa-se recentemente uma reversão de rumo, já que o conhecimento hidrológico desassociado de suas estreitas ligações com fluxos hídricos das bacias não atende a crescente demanda por uma agricultura sustentável, cujos desafios tendem a aumentar frente as mudanças climáticas em curso. Dentre as conclusões das pesquisas com esse enfoque destaca-se que, as boas práticas agrícolas, incluindo a conservação da vegetação ripária, são fundamentais para a sustentabilidade na agricultura, haja vista suas implicações na quantidade e de qualidade da água e respectivo uso múltiplo na sociedade.

No âmbito da nossa Embrapa, por exemplo, formou-se recentemente a rede de pesquisa AgroHidro constituída inicialmente por cerca de 45 pesquisadores, de 12 centros de pesquisa da Embrapa e de 8 universidades brasileiras, sem considerar parceiros indiretos e externos, inclusive internacionais, que já participam de pesquisas em desenvolvimento na Embrapa que comporão a rede. A gestão da rede é realizada por um grupo gestor, que define questões estratégicas e relevantes da rede, inclusive a inserção e apoio a outras iniciativas de pesquisa no tema. O objetivo da AgroHidro é estudar as interações da agricultura com os recursos hídricos em bacias hidrográficas de diferentes biomas brasileiros, avaliando-se as alterações hidrológicas advindas de mudanças climáticas e de uso e cobertura da terra, com vista à sustentabilidade da agricultura, dos ecossistemas aquáticos e à manutenção da qualidade de vida das comunidades rurais. Para isso, estão previstas estratégias de gestão, comunicação, capacitação e trabalho, bem como atividades que visam à transferência de conhecimentos e tecnologias de uso sustentável da água nas regiões estudadas.

A rede AgroHidro reflete, portanto, respostas individuais e coletivas no meio científico aos desafios para atender ao tema ÁGUA e suas Múltiplas Facetas. Para uma resposta a altura dessa "Prioridade das Prioridades" é essencial que outras respostas proativas - pessoais e coletivas - ocorram em todo o país, tanto no meio científico como no meio político e social, incluindo o setor produtivo agropecuário.

... E que assim seja aqui em nosso país, onde até mesmo sua tradição religiosa cristã, no contexto do batismo (sua iniciação), aponta a água como importante símbolo de fé. Por conseguinte, vale citar um trecho das Escrituras Sagradas onde Jesus Cristo aborda tanto aspectos materiais como espirituais da ÁGUA e suas Múltiplas Facetas: "Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna."




ENVIADO PELA COLABORADORA
JORNALISTA MARIA CRISTINA TORDIN - EMBRAPA MEIO AMBIENTE
JAGUARIUNA - SP


BLOG SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!

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